A solidão da mulher negra: por que somos sempre deixadas por último?
Tem um tipo de solidão que é difícil explicar, mas que a maioria das mulheres negras entende bem. Não é só sobre estar sem companhia, mas sobre estar em lugares cheios e ainda assim se sentir invisível. É sobre ser ouvida, mas nunca escutada. Vista, mas nunca reconhecida. A solidão da mulher negra é um sentimento coletivo — e silencioso demais.
Quando a amizade não alcança
Sabe aquele grupo de amigas na escola que combinava pulseira, roupa, saía junto todo fim de semana? Muitas meninas negras não estavam nele. Não porque não queriam, mas porque não eram vistas como parte “natural” do grupo. A beleza negra ainda era ignorada, o cabelo visto como “diferente demais”, e a risada... sempre “alta demais”.
A influenciadora Nath Finanças, por exemplo, já contou que só começou a se sentir realmente parte de um círculo de amizades quando encontrou outras mulheres negras adultas. Antes disso, era sempre aquela sensação de estar ali, mas não pertencer de verdade.
E nos romances? A gente também quer ser escolhida
Tem uma frase que dói, mas é real: “a mulher negra é desejada, mas não é amada”. A gente cansa de ouvir que é linda, mas na hora do namoro sério, do amor de verdade, muitas vezes somos deixadas de lado. Isso não é vitimismo — é estatística.
Muitas mulheres negras falam sobre a sensação de serem a “última opção”, a “amiga legal”, a que é “forte demais pra precisar de carinho”. A escritora Cristiane Sobral já falou disso com muita coragem. E os números confirmam: mulheres negras são as que menos se casam e as que mais sofrem violência doméstica.
E não importa se a mulher é famosa ou não. A atriz Taís Araújo, mesmo sendo linda, talentosa e bem-sucedida, já relatou episódios de racismo e preconceito em seus relacionamentos. O amor, pra gente, vem sempre com obstáculos extras.
Forte até demais — e cansada disso
A sociedade criou uma imagem da mulher negra como forte, guerreira, que aguenta tudo. E sim, somos fortes. Mas isso não significa que não sentimos dor. O problema é que essa ideia de força virou desculpa pra negligenciarem nossos sentimentos. Se choramos, dizem que é drama. Se ficamos quietas, dizem que é arrogância.
A filósofa Sueli Carneiro disse uma vez que esse mito da mulher negra forte serve mais pra nos isolar do que pra nos proteger. Afinal, se todo mundo acha que a gente aguenta tudo, quem cuida da gente?
Mas também tem resistência e cura
Apesar de tudo isso, tem um movimento lindo acontecendo: mulheres negras se encontrando, se escutando, se curando. Tem podcast, como o Afetos, com a Gabi Oliveira e a Karina Vieira, que falam sobre amor, autoestima, afeto, tudo isso com a nossa cara. Tem também perfis no Instagram, coletivos, rodas de conversa, onde a gente pode respirar aliviada e pensar: “não tô sozinha”.
A escritora Djamila Ribeiro fala disso com muita sabedoria. Seus livros, como Pequeno Manual Antirracista, são verdadeiros abraços. Porque às vezes, tudo que a gente precisa é isso: ser acolhida.
E agora, o que fazer com essa solidão?
Primeiro, a gente precisa falar dela. Dizer em voz alta que ela existe. Depois, entender que ela não é culpa nossa. A culpa não é sua por não ser escolhida, por se sentir deslocada, por ter que ser forte o tempo todo.
A culpa é de uma sociedade que ainda não aprendeu a amar mulheres negras como elas merecem ser amadas.
Mas enquanto essa mudança não acontece de fora pra dentro, que a gente siga se fortalecendo de dentro pra fora — juntas. Porque solidão nenhuma sobrevive onde tem afeto, escuta e verdade.